Em menos de 6 meses descobri que tinha uma catarata e operei. E agora?

Agora… sinceramente não sei. Achei que sabia, que era só operar, e pronto. Mas não… não é!
Sim, a operação é simples, mas não, a adaptação à "nova" visão, não é. Portanto, aquela célebre frase: "No dia seguinte você pode ter uma vida normal", para mim, não foi verdade. Por isso resolvi escrever esse texto (uma semana após operar, e ainda com alguma dificuldade em enxergar) para alertar as pessoas que, se por um lado, quanto mais jovem e fina estiver a catarata, mais simples será a cirurgia, por outro lado, devemos ter mais esclarecimentos sobre como poderá ser o pós-operatório, sobre o que irá mudar nas nossas vidas e, principalmente, sobre o período de adaptação… enfim, sobre coisas que os médicos não costumam perder muito tempo explicando, porque variam de pessoa para pessoa. Mas é justamente porque não somos todos iguais que devemos ser alertados sobre tudo o que poderá afetar as nossas vidas após a cirurgia, não é mesmo?



Pois bem. Quem me tem acompanhado no Facebook, deparou com as minhas queixas nessa semana:
- "Envelhecer é mesmo uma merda quando a única coisa que você sabe fazer na vida é escrever, mas a visão não deixa";
- "Operar a catarata aos 45 anos… Quem puder esperar, espere! A operação é simples, mas adaptar-se a "nova" visão, não!"
Sim, eu sei que por vezes reclamo demais, sou exagerada, e não tenho paciência. Mas vejam se não tenho razão:
Quem me conhece, ou já me conheceu de óculos, ou sabe que eu comecei a usar óculos para longe com 11 anos de idade. Logo, os últimos 34 anos da minha foram vividos com miopia e com a ideia de que era "normal" acordar ao meio da noite e ter que colocar os óculos para ver as horas; era "normal" entrar no mar ou na piscina de óculos, assim como também era normal (e isso é mesmo!) não precisar de óculos para tirar as cutículas ou as sobrancelhas (sim, quem tem miopia, normalmente enxerga muito bem de perto, o que era o meu caso!). E assim eu fui vivendo, com uma miopia desde os 11 anos, que foi aumentando gradativamente, e eu me readaptando a cada novo grau (o que não era nada difícil, visto que uma diferença de 0,25, 0.50 graus, de tempos em tempos, não causa grande transtorno).
Aí eu cheguei ao 43 anos e comecei a notar que a minha miopia começou a aumentar com muito mais rapidez do que eu estava acostumada. Comecei, de seis em seis meses, a ter um aumento de meio grau (as vezes mais), o que me obrigava a fazer novos óculos, e o que,  devido a alta graduação, começou a ser financeiramente impraticável. Assim, aos 44 anos e meio foi-me detectado uma "catarata nuclear insipiente" e quando fiz 45 anos decidi operar… Ou seja, foi tudo muito rápido. Em menos de 6 meses descobri que tinha uma catarata e operei. De um dia para o outro, eu tive a minha graduação de miopia no olho direito praticamente zerada (devido a operação e consequente introdução de uma lente intraocular) mas... perdi totalmente a minha visão de perto (normalmente é assim, corrige-se a miopia, mas perde-se a visão de perto). Ou seja, é como se eu tivesse nascido de novo, mas agora com a visão do olho direito totalmente ao contrário do que eu estava acostumada. Não que os médicos não me tivessem alertado para a perda da visão de perto. Mas eles não me alertaram para o facto dessa adaptação não ser nada fácil. Imagina o que é vc tirar as cutículas a noite, ir dormir, e no dia seguinte não poder mais fazer isso?
Sim, a visão para longa distância, do olho direito, melhorou (não zerou). Mas justamente por causa disso, por SÓ a visão do olho direito ter melhorado, o cérebro começou a ter dificuldades em compreender porque, de repente, eu comecei a enxergar tão bem de longe e tão mal de perto com este olho e continuei a enxergar tão mal de longe e tão bem de perto com o olho esquerdo. Daí o desequilíbrio e a confusão. Mesmo que colocasse os óculos com a lente graduada somente no olho que não foi operado, o desequilíbrio mantinha-se…
Para contornar este problema, foi-me apresentada três alternativas: (1) usar lente de contacto no olho que não operou; (2) operar este olho e introduzir, também dentro dele, uma lente intraocular (e se optar por uma lente com graduação para longa distância, também perder a visão de perto neste olho); (3) tentar diminuir o grau da lente do olho que não operou, a fim de que a diferença entre ele e o operado não seja muito grande… Enfim, sendo estas as soluções, não considero ter tido uma melhoria na qualidade da minha visão (como se apregoa por aí)...
Portanto, quando for mesmo necessário fazer essa cirurgia (e só quando não tiver mais jeito), considero que o médico deve ter em conta:
(1) As necessidades do paciente (se este trabalha utilizando mais a visão de perto ou meia distância, talvez não vale a pena colocar uma lente intraocular para longa distância, ainda que com ela você tenha mais autonomia se perder o óculos na praia!);
(2) A graduação do paciente (quem tem uma graduação muito alta de miopia, pode ter problemas em se adaptar com lentes intraoculares multifocais e, por isso, é mais seguro optar por uma lente monofocal. O paciente já terá confusão suficiente entre o olho que tem, e o que não tem, uma lente intraocular monofocal (vai por mim!));
(3) Mesmo que se consiga zerar a graduação para longe, provavelmente o paciente terá de usar óculos para perto e meia distância. Serão, portanto, no mínimo dois óculos de agora em diante, ou se adaptar, forçosamente, aos progressivos (multifocais);
Existe a possibilidade do médico introduzir em um olho uma lente para longa distância, e no outro uma para média distância. Ainda assim, é pouco provável que você precise somente de uns óculos para curta distância, visto que dificilmente as lentes intraoculares conseguem zerar os graus.
É certo que cada caso é um caso, e que a sensibilidade dos olhos das pessoas são diferentes. Por isso mesmo é importante alertar para as dificuldades a que todos estamos sujeitos.