Sobre trabalho e propósito de vida

Esses dias eu estava conversando com uma amiga, e quando lhe disse que estava a procura de um propósito (porque eu associo o trabalho à um propósito de vida), ela me disse que achava isso estranho porque, para ela, ter um propósito não significa ter trabalho, ou seja, um propósito pode ser viajar, comprar algo que se queira, enfim... ganhar dinheiro, e o trabalho é o meio para atingir esse propósito.
Pois bem… eu fiquei pensando nessa conversa e, sinceramente, acho que o que me difere da maioria das pessoas que eu conheço é justamente isso: PARA MIM, O PROPÓSITO É O TRABALHO E O DINHEIRO É A CONSEQUÊNCIA DISSO. Eu não consigo imaginar a minha vida trabalhando em algo que eu não goste, com o propósito de ganhar dinheiro (mesmo porque passamos a maior parte da nossa vida trabalhando).
Eu fiz jornalismo porque gosto de escrever, investigar, entrevistar, apurar, informar, e não para ficar rica.
Eu fiz mestrado e doutoramento porque gosto de estudar, e não para ficar rica.
Eu estudei temas que me interessam por prazer em pesquisar, entrevistar e ler, e não para ficar rica.
Portanto, aos 44 anos, não, eu não sou rica, e sim, eu sempre vi o trabalho como algo que me dá prazer e, por isso, como um propósito de vida. E nunca me importei de ter que trabalhar até aos 70!
No entanto, e apesar de eu ter investido tanto na minha formação para poder trabalhar com aquilo que gosto, o facto é que está cada vez mais difícil manter-me firme neste propósito:
- Antes era porque eu não tinha experiência, agora é porque tenho muita experiência;
- Antes era porque eu não tinha doutoramento, agora é porque eu já tenho o doutoramento;
- Antes era porque eu não tinha publicações cientificas, agora é porque ainda não tenho publicações científicas suficientes;
- Para alguns é porque tenho doutoramento em geografia humana e não em comunicação (apesar dessa treta toda de interdisciplinaridade, multidisciplinaridade, etc); para outros, é porque tenho o mestrado em comunicação e não em geografia humana ou "áreas afins".
Portanto, ao que parece,  não, nunca teremos as competências necessárias.
O problema é que, quando se chega aos 44 anos com uma experiência profissional e académica construída ao longo dos últimos 23 anos, nós já sabemos que possuímos as competencias que dizem que não possuímos, mas também já não temos mais paciência de ter que continuar provando isso… Nos tornamos uma espécie de "Talento Subaproveitado", uma vez que já não temos 25, nem 35, mas quase 45, e um manancial de conhecimento que o mercado de trabalho ou não acha suficiente ou acha que excede o que é suficiente.