O Silêncio


Por mero acaso encontrei um novo autor, mas a vida é feita assim, meros acasos, muitas surpresas, esta é apenas mais uma...muito boa :)
Para partilhar convosco...
A Partilha uma palavra,talvez...não,

A bem da verdade, não apenas uma palavra, mas um gesto, que me é particularmente grato.
Dai, que quando começei a descobrir este poeta e este poema em específico, percebo que é em muito, tudo o que sinto e penso sobre o não gostar do silêncio...e o amar da partilha.
Embora os perceba como essenciais, descobri que tem um tempo certo.

Conclui... Não é decerto agora, para o silêncio!!!


Não Te Gosto em Silêncio – José Guilherme de Araújo Jorge

«Não te gosto em silêncio porque te sinto distante...
Entre tua boca e a palavra mora talvez minha angústia
como entre o dia e a noite
vacila a longa dúvida do crepúsculo.

Não te gosto em silêncio, quando há em teus olhos, pousados,
dois estranhos pássaros noturnos,
e teus lábios emudecem como a fonte nos ásperos
e intermináveis invernos.

Não te gosto em silêncio quando te envolves com as coisas
que te cercam, como se fosses uma delas,
quando estás como as águas paradas, cuja beleza
é apenas o reflexo das estrelas.

Por isto te provoco é te atiro perguntas
como pedras quebrando a impassibilidade do lago,
como pancadas no gongo que estremece e vibra
e te traz à tona para mim.

Não te gosto em silêncio, porque parece que atrás de tua voz
ainda se esconde alguém que tu própria não conheces,
a alguém embuçado a ameaçar nosso sonho
e que só tuas palavras poderão expulsar.

Não te gosto em silêncio, porque preciso ainda de tua palavra
para te descobrir,
lanterna adiante de meu passo, alvorada desenterrando
na noite emaranhada meu indeciso caminho.

Porque preciso ainda que tua palavra chegue como um vento forte
arrastando nuvens, limpando céus e horizontes,
levando folhas doentes, te descobrindo ao sol...

Um dia te gostarei em silêncio. E então me recolherei em teu silêncio,
e procurarei a sombra, como o pássaro na hora da tarde,
e porque o sol estará em nós e nada turvará meu pensamento,
entre tua boca e a palavra haverá apenas o meu beijo.»


Cântico Negro - José Régio

"É o poema dos teimosos, mas verdadeiros consigo proprios... É o poema daqueles que não tem medo daquilo que é novo, do cheiro das coisas selvagens e paisagens naturais e abertas..."
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

O amor...

"Nada fica imóvel e idêntico com o passar do tempo, o amor é um processo e não um objetivo a se atingir. O amor não é como o Céu, que uma vez alcançado, fica eternamente na mesma situação. Li outro dia uma frase, que me foi passada como sendo de Victor Hugo, e, se não for, me corrijam; “Não há nada mais parecido com a constância que a morte.”"

Esperas inúteis ...para que o Amor!?!?

Falo-vos de Eugénio de Andrade, um beirão (como eu!), embora tenha passado uma boa parte da sua vida no Porto.
A sua poesia caracteriza-se pela importância dada à palavra, disse num dos seus poemas, «nunca o amor foi fácil, nunca».
Nos tempos que correm não poderia estar mais certo... aqui fica a minha reflexão do dia!
E hoje não é seguramente um bom dia... sobretudo para o Amor!

Adeus
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava!
Acreditava,
porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...
já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos nada que dar.
Dentro de ti
Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.

!?


Para que tanta filosofia? Profundidade?! Sentimentalismo?!

"Todas as cartas de amor são ridículas", disse muito bem Pessoa...

A vida deveria ser mais simples, leve...

Voz Interior

Espiritualidade é reconhecer nossa própria sabedoria interior, reconhecer o oráculo que existe dentro de nós. Se escutarmos a essa sábia voz interior, poderemos aprender como dar sentido às coisas e entender o que está acontecendo ao nosso redor. Quando vamos para dentro, a mente começa a se acalmar e assentar. A vida se torna mais ordenada e nos sentimos mais contentes. Começamos a sentir que agora podemos ir em frente nessa jornada que irá nos preencher.
Jim Ryan

Livro de Poemas, A voz que nos trai ...


« Pode ser uma ou várias. A minha traiu-me em cada instante que me senti pesar na tua vida. Por palavras talvez mais do que por gestos, fui-me traindo e fui pesando. Se 21 gramas é o peso que se perde quando se morre, qual é o peso da vida?
Não queria de algum modo trazer peso à tua vida, mas traí-me e talvez te magoasse assim. Sempre preferi esconder-me. Não por não querer que me visses mas para impedir que ao me veres te pesasse.
A minha voz traiu-me. Descontrolou-se na sua vontade de dizer. Palavra após palavra, denunciou-me. A maldita. A traição talvez a consiga superar. O peso que trouxe à tua vida. Não sei. Estou a tentar perceber. Embora saiba que não vou puder saber.
Houve outra voz que me traiu antes de poder ouvir a resposta. A voz da vida.
Longe, não sei se te pesei mais em vida se agora, sem ela. Recebe as minhas 21 gramas, o peso da minha alma. É leve e apenas sorri.
Porque foi o que aprendi contigo. A sorrir.
Neste adeus que não recebeste, nesta despedida que não existe, lembra-te apenas do meu sorriso. É teu. Como aquele café que não tomámos. Um aroma que ficou, o meu. Ou talvez e simplesmente o teu. Pois eu parti."

http://www.verbeat.org/blogs/avozquenostrai/arquivos

Diria a Saga continua ... O desafio do Amor em Poemas

«Ah o amor ... que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porque...»

«... Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.»

Carlos Drumond de Andrade

Neste caso ...Viva Drumond, um génio da literatura brasileira.

Machado é Machado...

Pode um neto de escravos, gago, epiléptico e de condições humildes, em pleno século XIX, ter se tornado o maior escritor brasileiro de todos os tempos?! Pode... o cara não poderia ser ninguém menos que Machado de Assis! Sua obra... a condição humana numa espécie de "Espelho"... duas almas temos todos, diria, a interna e a externa. Para os que não leram este, recomendo!

Um desafio agora aos colegas que propuseram aqui frases sobre o amor!
"O amor é o egoísmo duplicado"
"O amor é o rei dos moços e o tirano dos velhos"
"Amor repelido é amor multiplicado"
"Não se ama duas vezes a mesma mulher"

Machado é Machado!

A Encomenda do Silêncio - É simplesmente maravilhoso!

Já reparaste que tens o mundo inteiro
dentro da tua cabeça
e esse mundo em brutal compressão dentro da tua cabeça
é o teu mundo
e já reparaste que eu tenho o mundo inteiro
dentro da minha cabeça
e esse mundo em brutal compressão dentro da minha cabeça
é o meu mundo
o qual neste momento não te está a entrar pelos olhos
mas através dos nomes
pois o que tu tens dentro da tua cabeça
e o que eu tenho dentro da minha cabeça
são os nomes do mundo em brutal compressão
como um filtro ou coador
de forma que nem és tu que conheces o mundo
nem sou eu que conheço o mundo
mas os nomes que tu conheces é que conhecem o mundo
e os nomes que eu conheço é que conhecem o mundo
o qual entra em ti e o qual entra em mim
através dos nomes que já tem
de forma que o que entra pelos meus olhos não pode
entrar pelos teus olhos
mas só pela tua cabeça através
dos nomes dados pela minha cabeça
àquilo que entrou pelos meus olhos já com nomes
e do mesmo modo
o que entra pelos teus olhos não pode
entrar pelos meus olhos
mas só pela minha cabeça através
dos nomes dados pela tua cabeça
àquilo que entrou pelos teus olhos já com nomes
e assim o que tu vês
já está normalmente dentro de ti antes de tu o veres
e assim o que eu vejo
já está normalmente dentro de mim antes de eu o ver
e tudo quanto tu possas ver para aquém ou para além dos nomes
é indizível e fica dentro de ti
e tudo quanto eu possa ver para aquém ou para além dos nomes
é indizível e fica dentro de mim
e é assim que vamos construindo a nós mesmos pela segunda vez
tu a ti e eu a mim...construindo uma consciência irrepetível e intransmissível
cada vez mais intensa e em si
tu em ti eu em mim
no entanto continuando a falar um com o outro
tu comigo e eu contigo
cada um
tentando dizer ao outro
como é o mundo inteiro que tem dentro da cabeça
e porque é e para que é
tu o teu mundo que tens dentro da tua cabeça
eu o meu mundo que tenho dentro da minha cabeça
até que morra um de nós
e depois o outro...
(Poema de Alberto Pimenta Lisboa, 1986)