Livro de Poemas, A voz que nos trai ...


« Pode ser uma ou várias. A minha traiu-me em cada instante que me senti pesar na tua vida. Por palavras talvez mais do que por gestos, fui-me traindo e fui pesando. Se 21 gramas é o peso que se perde quando se morre, qual é o peso da vida?
Não queria de algum modo trazer peso à tua vida, mas traí-me e talvez te magoasse assim. Sempre preferi esconder-me. Não por não querer que me visses mas para impedir que ao me veres te pesasse.
A minha voz traiu-me. Descontrolou-se na sua vontade de dizer. Palavra após palavra, denunciou-me. A maldita. A traição talvez a consiga superar. O peso que trouxe à tua vida. Não sei. Estou a tentar perceber. Embora saiba que não vou puder saber.
Houve outra voz que me traiu antes de poder ouvir a resposta. A voz da vida.
Longe, não sei se te pesei mais em vida se agora, sem ela. Recebe as minhas 21 gramas, o peso da minha alma. É leve e apenas sorri.
Porque foi o que aprendi contigo. A sorrir.
Neste adeus que não recebeste, nesta despedida que não existe, lembra-te apenas do meu sorriso. É teu. Como aquele café que não tomámos. Um aroma que ficou, o meu. Ou talvez e simplesmente o teu. Pois eu parti."

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1 comentário:

Marina disse...

Será mesmo 21 gramas o peso da alma? Caberá aí toda uma existência (mental, espiritual, transcendental?!)Fantástico o filme de Alejandro González Iñárritu, que aliás arrasou com "Babel". Falando em cinema, ontem vi "No sos vos, soy Yo", e é simplesmente espectacular! Uma co-produção argentina e espanhola. Um filme de Juan Taratuto. Vale a pena! A solidão, a traição, o amor, o recomeço... e a vida segue!