Texto e foto por Juliana Iorio
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A quem diga que, quem não conhece o Bairro do Chiado, em Lisboa (Portugal), não conhece Lisboa! Localizado entre a chamada “Baixa Pombalina” e o famoso “Bairro Alto”, este bairro é um dos mais emblemáticos da cidade. E é no centro do Chiado que está a histórica “Rua Garret”, uma rua que foi pólo intelectual de Lisboa no século XX, que liga o “Largo do Chiado” à “Rua do Carmo”, e que continua a ser um ícone nesta cidade. Por isso, conhecê-la, é uma visita obrigatória!
No entanto, o que muitas pessoas não sabem, é que perpendicular à Rua Garret, existe uma pequena rua, chamada Rua Ivens, onde encontra-se o palacete do Visconde de Loures, um palacete de traça românica, que desde 1974 é ocupado pelo Grêmio Literário de Lisboa.
Criado em 18 de Abril de 1846, através de uma carta régia expedida pela então rainha de Portugal, Dona Maria II, o Grêmio Literário de Lisboa teve entre os seus fundadores as duas principais figuras do Romantismo português: o historiador Alexandre Herculano e o poeta e dramaturgo Almeida Garrett, para além dos chamados “Liberalistas Constitucionais” e “Setembristas” (corrente mais à esquerda do movimento liberal), que tinham como objetivo o convívio e a promoção da cultura no país. Com sucessivas sedes no Bairro do Chiado, atualmente este organismo pode ser encontrado na Rua Ivens, número 37.
Lá, para além de se poder encontrar variadas atividades intelectuais, como conferências, cursos sobre literatura, arte, arquitetura, economia, política, direito, e etc, as suas salas, a biblioteca e o gabinete de leitura de jornais, que já foram mencionados em diversas obras literárias, são consideradas visitas obrigatórias. Foi nas salas do Grêmio Literário de Lisboa que realizou-se, em 1912, a primeira exposição “modernista” registada pela História de Arte Portuguesa, nela tendo exposto, pela primeira vez, o pintor Almada Negreiros.
Mas se a evolução de Lisboa fez abrandar a frequência significativa do Grêmio Literário até meados do século XX, nos anos 60 o seu papel cultural e mundano foi recuperado. Um centro de estudos sobre o século XIX teve o seu lugar, realizando-se conferências, publicações, cursos e colóquios internacionais; e enriquecendo-se a biblioteca com mais esta especialidade. Atualmente, esta biblioteca possui cerca de 13.000 volumes. E foi também em uma das suas salas, que em 1985, iniciou-se o Movimento Contra o Acordo Ortográfico, para defesa da Língua Portuguesa.
Hoje, dentre os Sócios Honorários deste Grêmio, destacam-se as escritoras Agustina Bessa-Luís e Ana Maria de Lourdes Rocha Alves Hatherly; a atríz Carmén Dolores; e a viúva de um neto do escritor Eça de Queiroz, atual Presidente da Fundação Eça de Queiroz, Maria da Graça Salema de Castro. Ainda como parte do Corpo Social, mais propriamente do Conselho Literário, encontra-se o nome de Maria de Jesus Barroso Soares, primeira-dama de Portugal de 1986 a 1996.
Uma larga correspondência com outros “clubs” e “cercles” na Europa, nas Américas e em outros continentes, assegura hoje um convívio internacional com professores, escritores, juristas, médicos, economistas, empresários, diplomatas e personalidades da política. Trata-se, portanto, de um organismo que foi reconhecido, em 1996, como “Utilidade Pública”, “pela notável actividade de uma das associações mais antigas da Europa e pela importância das acções desenvolvidas na defesa da língua portuguesa”.
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