Episódio 24 - Yes, estradas em S!

Nestas minhas andanças pelo Distrito de Castelo Branco, fazíamos quase tudo através das chamadas "estradas nacionais". Eu sempre achei estranho a sinuosidades destas estradas naquela região... Tinha a impressão de que todas tinham sido construídas em forma de "S"! Então, uma vez, perguntei ao editor do Jornal para o qual eu trabalhava por que razão as estradas eram assim.  Ele então contou-me um história que, até hoje, não sei se foi uma anedota ou se ele estava a falar a sério:
"Quando iniciaram as construções das rodovias portuguesas, os engenheiros eram ingleses e os operários eram portugueses. Como havia uma dificuldade em eles se comunicarem, quando os operários perguntavam aos engenheiros: Senhor, é por aqui?, apontando o caminho por onde deveria abrir a rodovia, o engenheiro respondia: "Yes". Como o operário mal compreendia inglês, entendia "Em S". E assim, ao invez de abrirem as rodovias numa reta, construíam-nas em forma de "S""!

Apesar de engraçada, e do editor do jornal me contar esta história de uma forma muito séria, penso que as estas estradas foram construídas desta forma por tratar-se de um país, em que na época das suas construções, possuia grandes latifúndios que, por sua vez, pertenciam à grandes coronéis. Aliás, o histórico "coronelismo" brasileiro não poderia ter tido outra origem! Assim, para que as estradas não passassem no meio destes grandes latifúndios, elas eram construídas ao redor, contornando estas terras.

Outro motivo para tanta sinuosidade prende-se com as montanhas presentes nesta região. No Distrito de Castelo Branco encontra-se a principal cadeia montanhosa do país: A Serra da Estrela. Portanto, há lugares que só temos acesso através de estradas estreitíssimas, sem acostamento, e que ainda por cima funcionam com duplo sentido (em mão dupla). Nas encostas destas montanhas podemos encontrar diversas plantações de oliveiras. A oliveira (que nos dá as azeitonas, de onde se produz o azeite) é a única árvore no país que qualquer português pode cultivar, mesmo em terras do Estado. Portanto, praticamente toda família que vive nesta região possui uma oliveira! Não é à toa que o melhor azeite de oliva do mundo é produzido alí, na Região da Beira Baixa. Apesar disso, como não há grandes subsídios e incentivos à produção, acaba-se por produzir somente para a subsistência. Esta tem sido a grande falha do governo português, que com a entrada na União Européia, está a ter que "engolir" e produção de azeite de outros países, como a Grécia e a Espanha. Embora tais produções não superem, em qualidade, o azeite de oliva português, elas são comercializadas em Portugal com um preço inferior à produção nacional. Isto porque, diferentemente do governo português, os governos grego e espanhol souberam incentivar a produção dos seus azeites.

Mas continuando as minhas "viagens" pelas estradas da Beira Baixa, reparei que, durante quilómetros, viajámos sem ver uma "alma viva"! Vimos muitas áreas destinadas à caça, muitas cabras e cabritos a pastarem, e algumas plantações esquecidas... Em relação à isso, outra máxima dita pelo meu antigo editor foi: "Como uma país, despovoado como Portugal, conseguiu colonizar países como o Brasil, Angola, Timor...?" De facto, quando pensamos que Pedro Álvarez Cabral saiu do Concelho de Belmonte, que fica no Distrito de Castelo Branco, e descobriu o Brasil, vemo-nos obrigados a indagar: "Mas que povo é este?", ou seria... "Mas que povo FOI este?"
(Foto tirada da Internet)

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